Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar,
E um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...
Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.
Não. Cansaço por quê?
É uma sensação abstrata
Da vida concreta -
Qualquer coisa como um grito
Por dar,
Qualquer coisa como uma angústia
Por sofrer,
Ou por sofrer completamente,
Ou por sofrer como...
Sim, ou por sofrer como...
Isso mesmo, como...
Como quê?...
Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço.
(Ai, cegos que cantam na rua,
Que formidável realejo
Que é a guitarra de um, e a viola do outro, e a voz dela!)
Porque oiço, vejo.
Confesso: é cansaço!...
Álvaro de Campos
sexta-feira, novembro 28, 2008
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1 comentário:
Estava cansado de ver este post sem comentários...
Um abraço!
PS: este cansaço do Álvaro de Campos é o mesmo "mal de vivre" que sinto Domingo à noite, antes do início da semana... sensação que o eternamente angustiado Filipinho da banda desenhada da Mafalda descrevia como "a sensação do paraquedista a 10 metros do solo quando descobre que o paraquedas não abre..."
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