sexta-feira, agosto 31, 2007

(im)paciências

"Sometimes the greatest journey is the distance between two people"



Devia esperar. Devia terminar a leitura, fechar o livro e então sim ver o filme.
Infelizmente não vai aconteçer.
Programa para a noite de hoje: "The painted veil" adaptado do romance de Sommerset Maugham. A Marta já leu o livro e diz que é imperdivel. Eu tenho-o guardado para a viagem a Marrakesh. Para já fico com o filme. Espero que não me estrague o livro.

quinta-feira, agosto 30, 2007

O Milagre do Fogo (que não aconteceu)

30 Agosto de 2003. Não estava no Hospital quando partiste. Ligaram-me. Tinha ido a casa preparar a tua roupa. Hesitei entre ir-me despedir de ti ao Guincho ou correr para o Hospital. No meio da encruzilhada, da dúvida, o telefonema - Vem!!! - Disseram-me então. Não recordo nada do caminho, recordo um último abraço no teu corpo que já arrefecia, uma angústia no peito que teima (ainda) em permanecer. A saudade física e eterna que se instalou.

Retenho o verso de Tolentino que li (e reli, e reli)... aqui em tua memória...

(...)
há quem diga
a vida é um pau de fósforo

escasso demais

para o milagre do fogo

(...)

quarta-feira, agosto 29, 2007

Os amores de rua, a Raposa e o Principe que a Cativou

A propósito da morte de Francisco Umbral, a TSF repetiu ontem a entrevista Pessoal e Transmisivel com o Autor e Jornalista... do diálogo interessante retive a frase " Busco el amor por las Calles..."

O Amor nas Ruas, esclarecido pelo autor, como aquele que passa, que observamos, que encontramos está brilhantemente exibido no inicio do filme Closer, uma das melhores aberturas de filme que vi no cinema.




O Amor das Ruas, da mulher que passa, da luz do fim do dia, do encantamento momentaneo é o oposto do Amor Cativo, que se constroi, que se escolhe e que é maravilhosamente ilustrado no dialogo da Raposa e do Principe.

Num e noutro a certeza: "Que não seja eterno posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure"

quinta-feira, agosto 23, 2007

Ficar Só

Abro aqui este post só para fazer referência a este texto e foto tirados daqui.

A foto mostra o momento pós comemoração do 2º golo ao FC Copenhaga, o texto centra-se no olhar do Maestro - Rui Costa

" (...)
Esta expressão grave, de dentes cerrados, revela um jogador ferido que foi obrigado a recuperar o brilho fazendo extraordinariamente bem aquilo que sempre soube fazer bem, ultrapassando-se.
Este rosto ainda queimado pelo sol das férias relembra a parangona que diz “quem sabe nunca esquece”, ainda que nos pés venha ainda colada alguma areia fina das praias do Algarve.
Esta cara de alegria travada, de alegria que parou antes de chegar à garganta, mostra um jogador renascido e de novo amado por aquilo que é e por aquilo que sabe fazer, sem grandes piruetas nem mortais à retaguarda.
Esta cara tem um olhar incerto, abstracto, para lá do círculo do estádio. É um olhar perdido de alguém que foi reencontrado por milhares em êxtase à sua volta, por milhões a olhar para si.
Esta cara é quase a ausência de emoção no meio do turbilhão de emoções que rebentam depois da bola entrar na baliza. É também uma cara de pequena vingança para quem menosprezou, espezinhou e foi malcriado. É a cara de um homem que, num momento de comunhão e adrenalina total, quis ficar só. Como quem enfrenta a besta sem gritar pela 7ª Companhia.
(...) "

Vinícius de Moraes - Soneto de Fidelidade

Como prometido, aqui fica o dito embora não no La FUSA

Soneto da fidelidade

O Poema fez parte da missa do meu casamento.

É um dos mais belos textos de Vinicius de Moraes, boémio e apaixonado poeta e músico Brasileiro. No disco "Ao vivo em La Fusa" com Maria Creuza e Toquinho, Vinicius diz este poema entre a música "eu sei que vou te amar" ... a voz, e o poema ficaram para sempre marcados na minha memória (e todo o disco vale a pena).

Aqui fica o Poema e já a seguir na voz de Vinicius.

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Os loucos de Lisboa

Caminha decidido rua acima, caminha ignorando os carros em direcção oposta, eles que se desviem, eles que deixem passar a sua loucura.

Encontro-o recorrentemente no café, cigarro entre os dedos. Ou caminhando, sempre caminhando, passo lento, lento mas decidido, gabardine de cabedal em pleno verão, óculos que lhe escondem a loucura nos olhos, posse de Lone Ranger, justiceiro só e louco.

Dele sei pouco, o nome que lhe oiço no café - João, Sr. João, que até louco merece respeito. Nada mais, tudo o resto é loucura, assumida e vivida, indiferente à outra loucura que o rodeia, à que caminha apressada, aos carros que fogem em direcção a uma rotina, único escape da loucura.

Ao vê-lo, fico sempre com a pergunta: Que passo me separa deste Homem, o que me (nos) mantém a salvo da loucura, desta loucura...

terça-feira, agosto 21, 2007

Purga II

Lisbon Revisited
por Álvaro de Campos

NÃO: Não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.
Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!
Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-na!
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?
Não me macem, por amor de Deus!
Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?
Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!
Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.
Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!

Purga

Nada como Álvaro Campos para expurgar esta falta de vontade, este outono dentro de mim.

Vilegiatura
O sossego da noite, na vilegiatura no alto;
O sossego, que mais aprofunda
O ladrar esparso dos cães de guarda na noite;
O silêncio, que mais se acentua,
Porque zumbe ou murmura uma coisa nenhuma no escuro ...
Ah, a opressão de tudo isto!
Oprime como ser feliz!
Que vida idílica, se fosse outra pessoa que a tivesse
Com o zumbido ou murmúrio monótono de nada
Sob o céu sardento de estrelas,
Com o ladrar dos cães polvilhando o sossego de tudo!

Vim para aqui repousar,
Mas esqueci-me de me deixar lá em casa,
Trouxe comigo o espinho essencial de ser consciente,
A vaga náusea, a doença incerta, de me sentir.

Sempre esta inquietação mordida aos bocados
Como pão ralo escuro, que se esfarela caindo.
Sempre este mal-estar tomado aos maus haustos
Como um vinho de bêbado quando nem a náusea obsta.

Sempre, sempre, sempre
Este defeito da circulação na própria alma,
Esta lipotimia das sensações,
Isto...

(Tuas mãos esguias, um pouco pálidas, um pouco minhas,
Estavam naquele dia quietas pelo teu regaço de sentada,
Como e onde a tesoira e o ideal de uma outra.
Cismavas, olhando-me, como se eu fosse o espaço.
Recordo para ter em que pensar, sem pensar.
De repente, num meio suspiro, interrompeste o que estavas sendo.
Olhaste conscientemente para mim, e disseste:
"Tenho pena que todos os dias não sejam assim" —
Assim, como aquele dia que não fora nada ...

Ah, não sabias,
Felizmente não sabias,
Que a pena é todos os dias serem assim, assim:
Que o mal é que, feliz ou infeliz,
A alma goza ou sofre o íntimo tédio de tudo,
Consciente ou inconscientemente,
Pensando ou por pensar
Que a pena é essa ...

Lembro fotograficamente as tuas mãos paradas,
Molemente estendidas.
Lembro-me, neste momento, mais delas do que de ti.
Que será feito de ti?
Sei que, no formidável algures da vida,
Casaste. Creio que és mãe. Deves ser feliz.
Por que o não haverias de ser?

Só por maldade...
Sim, seria injusto...
Injusto?

(Era um dia de sol pelos campos e eu dormitava, sorrindo.)
.......................................................................................................
A vida...
Branco ou tinto, é o mesmo: é para vomitar.

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *

Sia - Breath Me 2

Breath Me

Agosto. E ela volta. A neura entenda-se. O peso em cada passo, a vontade que levo tempos a descobrir. Entro em modo de Outono em pleno Verão, e perco os dias qual folhas caducas...

Vale-me a banda sonora a condizer:

Sia- Breath Me

Help, I have done it again
I have been here many times before
Hurt myself again today
And, the worst part is there's no-one else to blame

Be my friend
Hold me, wrap me up
Unfold me
I am small
I'm needy
Warm me up
And breathe me

Ouch I have lost myself again
Lost myself and I am nowhere to be found,
Yeah I think that I might break
I've lost myself again and I feel unsafe

Be my friend
Hold me, wrap me up
Unfold me
I am small
I'm needy
Warm me up
And breathe me

quinta-feira, agosto 16, 2007

Em tempo de Homenagens (na 2)


Deixa ficar a flor,

A morte na gaveta,
O tempo no degrau.

Conheces o degrau
Depois do patamar;
O que range ao passares;
O que foi esconderijo
Do maço de cigarros
Fumados às escondidas...

Deixa ficar a flor.

E nem murmures. Deixa
O tempo no degrau,
A morte na gaveta.

Conheces a gaveta:
A primeira da esquerda,
Que se mantém fechada.
Quem atirou a chave
Pela janela fora?
Na batalha do ódio,
Destruam-se, fechados,
Sem tréguas, os retratos!

Deixa ficar a flor.

A flor? Não a conheces.
Bem sei. Nem eu . Nem niguém.

Deixa ficar a flor.

Não digas nada. Ouve.
Não ouves o degrau?

Quem sobe agora a escada?
Como vem devagar!
Tão devagar que sobe...

Não digas nada. Ouve:
É com certeza alguém,
Alguém que traz a chave.

Deixa ficar a flor.

David Mourão-Ferreira