Deixa ficar a flor,
A morte na gaveta,
O tempo no degrau.
Conheces o degrau
Depois do patamar;
O que range ao passares;
O que foi esconderijo
Do maço de cigarros
Fumados às escondidas...
Deixa ficar a flor.
E nem murmures. Deixa
O tempo no degrau,
A morte na gaveta.
Conheces a gaveta:
A primeira da esquerda,
Que se mantém fechada.
Quem atirou a chave
Pela janela fora?
Na batalha do ódio,
Destruam-se, fechados,
Sem tréguas, os retratos!
Deixa ficar a flor.
A flor? Não a conheces.
Bem sei. Nem eu . Nem niguém.
Deixa ficar a flor.
Não digas nada. Ouve.
Não ouves o degrau?
Quem sobe agora a escada?
Como vem devagar!
Tão devagar que sobe...
Não digas nada. Ouve:
É com certeza alguém,
Alguém que traz a chave.
Deixa ficar a flor.
David Mourão-Ferreira
2 comentários:
nice blog
a um poema só se pode responder com outro poema.
dos que sublinhei, em agosto de 94.
"ruge reprende arrasa
desde que sempre o faças
com as asas".
tua, n.
Enviar um comentário