quinta-feira, agosto 16, 2007

Em tempo de Homenagens (na 2)


Deixa ficar a flor,

A morte na gaveta,
O tempo no degrau.

Conheces o degrau
Depois do patamar;
O que range ao passares;
O que foi esconderijo
Do maço de cigarros
Fumados às escondidas...

Deixa ficar a flor.

E nem murmures. Deixa
O tempo no degrau,
A morte na gaveta.

Conheces a gaveta:
A primeira da esquerda,
Que se mantém fechada.
Quem atirou a chave
Pela janela fora?
Na batalha do ódio,
Destruam-se, fechados,
Sem tréguas, os retratos!

Deixa ficar a flor.

A flor? Não a conheces.
Bem sei. Nem eu . Nem niguém.

Deixa ficar a flor.

Não digas nada. Ouve.
Não ouves o degrau?

Quem sobe agora a escada?
Como vem devagar!
Tão devagar que sobe...

Não digas nada. Ouve:
É com certeza alguém,
Alguém que traz a chave.

Deixa ficar a flor.

David Mourão-Ferreira

2 comentários:

promoteyourblogforfree disse...

nice blog

Anónimo disse...

a um poema só se pode responder com outro poema.
dos que sublinhei, em agosto de 94.
"ruge reprende arrasa
desde que sempre o faças
com as asas".
tua, n.