quinta-feira, janeiro 12, 2006

Quase

Ontem um amigo escreveu-me um mail onde dizia que eu Quase tinha ganho e que isso por si só era já uma meia vitória.

Respondi-lhe que sim. Que era verdade. Que ficava contente. O Quase tinha já sido muito bom

Encontrei-me depois com um outro email, que em tempos recebi, que fazia o elogio do Quase, o elogio de quem tenta e de quem ousa por oposição aos que apenas sonham e nada fazem.

E dei por mim a pensar neles... nos Quase da minha vida... Quase Boa pessoa, Quase bom profissional, quase isto, quase aquilo... aos 30 e tal preciso de ser...o quase já não chega... para não acabar como Mário de Sá Carneiro.

Quase
Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma, O grande sonho - ó dor! - quase vivido...

Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo ... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se enlaçou mas não voou...

Momentos de alma que, desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...

Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...

Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém

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